Por: SALVADOR NOGUEIRA/Folha de S. Paulo
Experimento inicial com quatro macacos obtém sucesso no Instituto Butantan; nova etapa vai usar 28 animais
Grupo usou DNA para ativar reação imune em primatas; nova fase tem vírus inofensivo para inocular genes
O projeto piloto do teste em macacos de
uma vacina contra o HIV desenvolvida pela USP obteve resultados
preliminares surpreendentemente positivos, afirmam os cientistas que o
conduziram.
“Testamos a resposta imune dos animais e
os resultados foram excelentes”, conta Edecio Cunha Neto, pesquisador
que liderou os trabalhos de desenvolvimento da vacina. “Os sinais foram
bem mais intensos do que os que encontramos em camundongos”, diz Susan
Ribeiro, cientista associada ao projeto.
A surpresa dos pesquisadores, que
ministraram três doses separadas por 15 dias em quatro macacos-resos do
Instituto Butantan, se deu pelo fato de que normalmente a reação a essa
modalidade de vacinação é menor em primatas do que em roedores.
Trata-se de uma vacina de DNA. Os
cientistas “escrevem” nessa molécula trechos de genes que codificam
pedaços de proteínas do vírus causador da Aids.
Com a inserção do DNA no organismo, a
ideia é que ele seja usado dentro das células para fabricar só essas
miniproteínas (chamadas peptídeos), sem o vírus original.
Esses pequenos pedaços proteicos foram
escolhidos com base em pacientes que têm resposta imune incomumente alta
ao HIV. Estudos conduzidos desde 2001 chegaram a 18 peptídeos que são
candidatos a produzir reação forte do sistema de defesa.
Testes feitos em camundongos modificados
para ter imunologia similar à humana mostraram que é possível ensinar
células responsáveis pela identificação de patógenos invasores a
identificar esses peptídeos e atacá-los.
A premissa é que, se o sistema
imunológico aprender a reconhecer esse material rapidamente e reagir
para destruí-lo, é isso que ele fará ao encontrar o HIV de verdade.
Contorna-se, portanto, um dos maiores
desafios de combate ao vírus: o fato de que ele costuma passar ileso
pelo sistema imunológico, que não o reconhece como um invasor perigoso
até que seja tarde demais. Como o HIV infecta justamente as células de
defesa, ele desativa mecanismos do nosso organismo que nos defendem de
infecções.
Editoria de arte/Folhapress |
Os dados obtidos pelo projeto-piloto são
animadores, mas ainda não consistem em prova definitiva de sucesso. Um
dos problemas é o número reduzido de animais.
A ideia agora é expandir o teste para 28
macacos e desenvolver um protocolo diferente, que envolve outra forma
de administrar a vacina.
VÍRUS CONTRA VÍRUS
Em vez de injetar o DNA diretamente no
organismo, a proposta envolve incluir o DNA que codifica esses peptídeos
do HIV no genoma de vírus “atenuados” –incapazes de causar infecção mas
indutores de potentes respostas imunes. Uma opção seria usar o vírus da
vacina da febre amarela em combinação com outros vetores virais,
aparentados da vacina da varíola e do causador do resfriado nos
chimpanzés.
O procedimento torna esses vírus uma
espécie de dublê do patógeno mortal. Espera-se que a resposta imune seja
ainda mais poderosa com o uso desse recurso.
Caso os testes sejam todos
bem-sucedidos, estará pavimentado o caminho para os ensaios clínicos com
humanos. O grupo da USP busca parceiros na iniciativa privada para
conduzir essa etapa final, que envolve custos da ordem de R$ 250
milhões. Até o momento, a pesquisa consumiu cerca de R$ 1 milhão.
Fonte: http://vitrinedotocantins.com.br
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